sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Chico Anysio e o Rio Antigo

Chico Anysio está internado, com graves problemas respiratórios, lutando pela vida. Este fato, de resto comum para alguém com a idade dele, tem me tocado especialmente.

Todos sabem dos posicionamentos políticos do artista, bastante conservadores - Para dar dois exemplos recentes ele já falou que goleiro negro não dá certo, amaldiçoando Dida e clamou pela derrota de Dilma nas últimas eleições, formando ao lado de Ferreira Goulart e outros.

Apesar disso tudo, vejo a agonia de Chico Anysio como se visse a de alguém muito próximo. Em parte porque ele fez parte de minha infância através da TV, como poucos. Mas também porque com ele vai embora um tempo, um Brasil, que em grande parte não vivi, mas do qual sinto saudades.

O humor genial feito por ele já não seria possível no tempo atual, tão mobilizado em higienizar todas as manifestações do espírito, tão pautado por um humor sexualizado e apelativo, tão distante do que é o Brasil.

Por isso o artista foi encostado pela Globo. Passou os últimos anos em depressão, percebendo que o país que o amou não existia mais, tragado pela vaga da modernidade, que traz progresso e tira um tipo de liberdade que é cara para quem a percebe.

Ziraldo disse esses dias que Chico Anysio é o maior artista brasileiro de todos os tempos. Se ser artista brasileiro é interpretar a alma nacional é possível que ele tenha razão. No mínimo, precisaríamos por o cearense ao lado de Mario de Andrade, Gilberto Freyre, Aldir Blanc.

Ou há algo que resuma mais o país do que Zelberto Zel ( Gilberto Gil), Pantaleão ( "é mentira Terta?"), Painho, Nicanor, Neide Taubaté ("uauuu, não é mesmo?"), Nazareno, Alberto Roberto, Justo Veríssimo, Jovem ( que é o Taumaturgo Ferreira, tenho certeza), Hilário, Haroldo, Coalhada, Dona Dedé, Bozó....

Para homenagear Chico Anysio, vai abaixo uma música linda de sua autoria ( sim, Chico também é compositor), chamada Rio Antigo. A nota interessante é que a letra fala de uma cidade que não volta mais, de um tempo que passou irremediavelmente. Além disso, é cantada juntamente com Mussum, outro que não teria lugar neste Brasil moderno, que, contraditóriamente, ajudamos a construir.



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