Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti viveram uma relação cheia de afetividade, amor ( ora platônico, ora realizado), e ódio. É famosa a competição entre Tarsila e Anita para vem quem pintava o mais bonito quadro para presentear Mário; mais conhecida ainda é a paixão recolhida de Anita por Mário, deste por Tarsila e desta por Oswald.
Nesta relação de quatrilho, a disputa entre Mário e Oswald é a que teve maior papel na definição dos rumos do movimento modernista. O autor de Serafim Ponte Grande acusava Mário de querer construir em torno de si uma escola, à qual todos deveriam se subordinar. Este se indignava com a acusação, conduzindo a coisa para uma ruptura que dividiria o campo intelectual do período.
Há quem veja nesta ruptura a fundação de uma linha divisória na cultura brasileira, onde de um lado estariam Oswald, os tropicalistas, Zé Celso Martinez Correa, e outros; de outro estariam Mário de Andrade, a visão do nacional popular, os sambistas do Rio de Janeiro, o CPC, etc.
Sendo isso verdade ou exagero, não deixa de ter interesse entender esta ruptura. Se não o interesse "científico", ao menos o estético - há muita coisa bonita produzida pela dor que o processo provocou.
Oswald, mais impulsivo e mais generoso, em pelo menos duas ocasiões tentou a reconciliação com o antigo parceiro, uma vez através de Lasar Segall e outra através poeta Edgar Braga. Diante das tentativas Mário fui duro e disse: "eu perdôo, mas não esqueço".
Em carta a Tarsila, falando da ruptura e da recusa diante das tentativas do ex-amigo, Mário diria algo muito bonito. "E então eu, que não fui feito para esquecer, não será possível jamais que eu me esqueça, nem de ninguém nem de nada".
E termina a carta pungente, doloridíssima, que é para Tarsila mas que também é pra Oswald : "E paro porque afinal tudo isso é muito triste e pouco digno do seus olhos e de seu coração que só podem merecer felicidade".
Interessantes afetividades - uma perdoando por amar demais, outra não perdoando pelo mesmo motivo.